sexta-feira, 11 de junho de 2010

Sufoco.


Eu fiquei com medo. Eu senti dor, sufoco, desespero, agonia, adrenalina, raiva, dó, saudade, culpa, o nada e o tudo, cheia e vazia, eu senti alivio.
Tudo começa porque sou eu, porque se não fosse não teria sido o que foi. Eu não respondia apenas ouvia. Mas hoje foi diferente. O caos veio à tona por causa de um leite no lugar errado. A princípio era como antes, eu calada e ele não parava de falar, no fundo eu sabia que como todas as vezes ele queria que eu gritasse e falasse algo. E coisa que nunca tinha acontecido, aconteceu. Eu discuti, eu gritei, coloquei a cara a tapa, eu fiquei rouca. Eu gelava de medo por pensar que o machucaria, e travava meus dentes todas as vezes que ele voltava a falar, a raiva aumentava, ele não me deixava, atormentava minha mente com insultos, ele me torturava verbalmente, ele fez um jogo sem perceber. Falava em tom abusivo, criticava, me julgava e ao mesmo tempo, em questão de segundos me mimava. Eu não agüentei. Disse que precisava sair. Sem pensar muito, ele deu alguns passos e voltou como se não tivesse controle de si. Trancou-me, disse que de casa eu não sairia. Com as coisas prontas, fiz tudo que ele pediu. Mas não estava bom. Ele queria me manter ocupada para não sair. Ele me perseguia. Tudo que queria era fica só (sem ele). Eu ia pro quarto ele ia atrás, eu sentava ele sentava, eu ia para sala de TV ele também ia.
Um sufoco, uma agonia sem fim. Fiquei com medo de sair e pensar que ele poderia passar mal. Então resolvi avisar.
- Olha. Eu ia sair sem falar nada, mas nem sei como se sentiria então estou avisando que eu PRECISO dar uma volta.
Já era de se esperar, ele disse que iria onde eu fosse. Eu impaciente sentei no sofá e ele veio. –“Onde você for eu vou. Sou parte de você. Eu estou em você.”.
Fiquei com mais medo ainda. Ele parecia obcecando por mim. Era como se morresse se me perdesse de vista por segundos. Eu era seu coração batendo ali, naquela hora.
Eu estava desesperada, não parava de chorar. Eu estava me matando por dentro para não matá-lo.
As palavras parecem fortes demais às vezes. Mas realmente era isso mesmo que estava acontecendo. Eu não agüentei mais. Esperei ele se virar e ir até a cozinha. Peguei a mochila onde tinha tudo que precisava. Não podia esquecer meus fones. Abri o portão silenciosamente e rápido. Era uma adrenalina estranha, eu estava apenas saindo de casa para dar uma volta e não fugindo da polícia. Mas ele me prendia...
Corri sem olhar para trás um dois quarteirões. Quando parei, notei um sorriso saindo de mim, era parecido com alívio, eu sentia o vento frio e o sol me aquecia. Eu andei alguns minutos, me sentei na grama. Ainda estava cansada e triste, me deitei. Fiquei ali por volta de 1 hora e meia. A música e a saudade que sinto dela me preenchia. Fazia-me sorrir. Como na infância, sentada diante o sol, eu podia ver meus cílios dourados e grandes. Eu não sentia vontade de voltar para casa, eu não queria conversar com ninguém. Eu não queria olhar para ele...
Encontrei minha mãe pelo caminho, com os olhos inchados de chorar e sem voz para conversar, ela disse: - Fica aqui perto de mim.
Eu então voltei para casa e ele estava ali com um ar de arrependido e ao mesmo tempo como se não tivesse acontecido nada. Talvez assim seja melhor para todos. Desespero da hora, esquecimento do tempo.

-Eu tentei te ligar.

Ana Laura Zani.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Minha saudade Grita.


Naquela sala tão vazia eu podia sentir sua presença. Sentada em sua poltrona de couro preta, era possível ver suas pernas mexendo ansiosa em ver uma coisa que tanto amava.
Eu escutei seu coração bater forte na mesma batida dos tambores tribais.
África do sul cheia de gente e eu aqui, cheia de saudade.
Lembro-me que você sempre se perguntava se estaria aqui na próxima copa. Hoje sabemos que era tudo que queríamos.
Agora você estaria encantada com as cores e musicas, mas entediada ao ouvir tantos discursos e sem paciência para tentar entender o que estão dizendo. E sem pensar duas vezes, balançaria a cabeça e diria: - Eu já sei tudo isso que ele está falando. Ele é um bestão!
Sempre pedia uma bandeira, talvez compraríamos agora.
Com as mãos abertas para dar sorte, ver a rede balançar e BRASIL poder gritar.
Quando o perigo de ataque na defesa chegar às mãos ela ira fechar para bola desviar.
- Agora sentada aqui fora as lagrimas tomaram conta da sala, com os olhos embaçados já não posso enxergar. Sua paz no vento me acalma.
Que comece o jogo, que a vida é curta e breve e ELA QUER VER GOL!



Ana Laura Zani

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Na falta de Luzia Zani.


Sinto a falta de uma parte de mim. Era tão presente, hoje tão distante. – Vó cadê meus cachos?
Era toda a minha proteção. Era grande. Mesmo aos 18 me colocou no colo, me deu amor, e toda força que precisei quando pensei que ninguém mais me ajudaria. A simples frase foi. – Eu te amo do jeito que você é. Assim ela se fez em mim! Brigava quando eu dormia demais, sempre perguntava se eu estava doente. E se não estava, ela dizia que ficaria, por ficar no computador até tarde. Era minha falta de medo que a protegia quando relâmpagos caiam, quando ventava demais, quando chovia, e quando a noite chegava e parte dela ainda não estava (Catarina, Ana Laura e Ana Carolina). Sem perder o controle, ela mantinha as coisas em ordem.
Hora para chegar, dormir, comer era obrigatório. Na falta que me faz, o dia vira noite e noite vira dia, não sinto sono, comer já não faz diferença. Hoje sem chorar a tempos, senti medo... A fixa caiu e você não está aqui! Não sei como pode, nos últimos dias. E me parecia tão tranqüila, tão calma,... Era claro de mais. Claro que ela já sabia que era chegada sua hora...
- Vó como é andar de ambulância? Quando eu andei estava desmaiada.
- Ah!!! Balança muito, quase passei mal!
Assim fiquei calada. Sempre tentando fazer um sorriso sair dali.
- Sua boca está machucada? Esta doendo?
- É, esta ferida. Acho que preciso passar um batom.
Sem ninguém entender eu não parava de rir. Que engraçado você querer usar batom, 18 anos seguidos e nunca tinha visto a palavra “batom” suar tão bem em sua boca. (Ela não gostava)
- Vóooooooooo me conta. O medico é bonito?
- Ah!! é sim, mas ele tem a calça rasgada, a cueca dele é azul. Como pode um médico bonito desses usar calça rasgada? E ele é casado com a médica, ela é linda!
- É mesmo vó?
Assim na esperança dos dias, se fez virada de ano, começo e fim!
Tão agonizante, em casa sozinha. Tudo me parecia normal. Liguei, conversei com todos, inclusive com ela. Mandou-me beijos e disse que estava voltando para casa. Sem pensar eu disse.
- Tô te esperando.
Quando amanheceu o telefone tocou... Uma voz desesperada que me perguntava o que estava acontecendo. Quando na verdade quem deveria perguntar por que tamanho desespero, era eu!
Disse que estava tudo bem, e minha vó estava voltando.
O telefone desligou.
Minutos depois alguém bate na minha porta. Pensei que era a funcionária... Era cedo de mais, não poderia ser ela. Eu estava sozinha. Levantei... Era ela. Não, não era minha vó. Era a mulher quem trazia a notícia... De que minha vó teria “descansado”...
(risos) meu corpo não agüenta minha mente não acompanha. Pediram-me calma. Calma pra que? Eu ainda não tinha entendido o que estava acontecendo. Ela entrou, sentou, o relógio voltou a rodar novamente eu comecei a entender. Eu precisava ser forte e achar meu vô. Sabiam que isso não era para mim. Então realmente eu precisava dar uma volta... Não durou nem 2 minutos e não dei nem 5 passos, eu não conseguia mandar em minhas pernas.
No desespero da hora, me perguntava, onde estava minha calma? Minha mãe liga e fala: Ela ainda esta aqui comigo, fica calma, seja forte e ela está linda, foi tranqüila. Eu podia ouvir a respiração ofegante da minha mãe ao segurar o choro.
Não foi nada fácil contar para o homem, com qual vivera 65 anos ao lado de alguém que acabava de partir. Viajem eterna... Ele não acreditava, era preciso ver para crer.
Em carros diferentes tomamos rumos diferentes... Chegamos ao mesmo lugar, horas depois. Com o mesmo intuito: “despedir”.
E foi isso que aconteceu. Seria tenso demais se eu relatasse como foi para mim. Sei que foi cruel o que o tempo fez comigo.
Ninguém pergunta se ainda tinha passos para dar ao lado dela que eu tanto amava, se minha vida estava entrelaçada com aquela que o tempo acabou de me arrancar. Ela vem te arranca, e se não esta preparada o problema é todo seu, por que ela nada sente. É incapaz de perceber que precisamos de mais alguns instantes. Eu queria sentir aquele cheiro por mais algumas horas, o som daquela voz.
Mesmo achando injusto, mesmo achando cedo demais.
Nada mais pode ser feito.

Ó meu pai do céu, limpe tudo aí
Vai chegar a rainha
Precisando dormir
Quando ela chegar
Tu me faças um favor:
Dê um batom a ela, que ela me benze onde eu for...

Penso que deveria ser proibido vó e mãe morrerem. Mas um dia vou ser mãe e avó; e vou pensar que é proibido filhos morrerem... Então aceitando que siga a ordem natural das coisas. Nada mais, nada menos. Cada um no seu tempo...

Amor é para sempre. Te amo. Obrigada...




Ana Laura Zani